quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Um novo eu diante de ti

Um novo eu diante de ti
Faz de mim algo que não quero
Faz de meus sonhos meus defeitos
Contagia com teu desafeto o que em mim houve de melhor
E já não há

Traga de dentro de ti algo novo para mim
Uma nova vida
Um novo nome
Pois nada do que existiu um dia serve mais

Escrevo sem rimas e métrica
Sem coerência
Só para confundir

Dizer que te vi chorando novamente
Com essa simples sentença
Seria muito pouco

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Alívio da alma

Sempre acontece. Você se depara com um momento em que a resposta certa não vem à cabeça, falta o "insight", e só muito tempo depois pensa no que poderia ter dito.
Aí então, fica se remoendo, porque aquele momento não vai acontecer novamente e você nunca mais irá falar o que gostaria de ter dito naquela hora.
E isso vai te consumindo; você fica triste com a sua falta de capacidade, se sente derrotado, como se tivesse perdido uma guerra para sempre e assinado um termo de comprovação da sua incapacidade de raciocínio ou de fragilidade moral.
Na verdade, todo esse sentimento remoído é justificável: a satisfação de dar a resposta certa, na hora certa, para a pessoa certa e com a intensidade certa, é plena.
Simplesmente assim, plena. Resumidamente plena.
Pode-se comparar com a satisfação de marcar um gol para a seleção em final de copa do mundo. Ou com a sensação de orgasmos múltiplos, sincronizado com seu parceiro, que é o amor da sua vida desde a sua primeira infância. É a adrenalina gritando dentro de você: "mandou beeeeeem!".
E quando você perde a chance de ter este momento de êxtase, é com certeza frustrante. Ou pior que isso, é uma perda inestimável para toda a sua existência.
Isso já aconteceu muito comigo. Principalmente por ter uma linha de raciocínio sarcástica, beirando a crueldade, tenho medo de magoar as pessoas. E também, é claro, porque falta agilidade na resposta mesmo.
Mas hoje... só hoje... a inspiração surgiu... a coragem também... e eu vou dormir muito mais em paz!
E depois, vou contar para todo mundo, afinal, não é sempre que isso acontece!

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Sexta-feira

Ele estava na cidade. A mensagem no meu celular dizia exatamente o lugar em que estaria hospedado por todo o final de semana. E me convidava para ir vê-lo.
Não poderia fazer isso. Meu noivo me esperava em casa assim que saísse do trabalho. No entanto, a curiosidade e a surpresa me diziam que eu deveria responder à mensagem... dizer um "oi" pelo menos.
Melhor não. Assim iria prolongar a idéia de que eu talvez sentisse saudades dele.
- E não sinto?
Perguntar a si mesmo é a plena confirmação da dúvida.
- Sim, eu sinto!
- Mas por que eu arriscaria algo tão imaculável como o relacionamento sólido que mantenho à tanto tempo?
"Imaculável, sólido..." acho que nunca havia definido tão docemente esta relação morna que eu levo...
- Amo meu noivo. Jamais o magoaria assim. Sei que se eu fosse ao hotel, ele morreria por dentro.
Outra mensagem. Dizia que sentia muitas saudades de mim e que não voltaria mais para a cidade por um bom tempo.
- Talvez dizer um "oi" pessoalmente não seja assim tão ruim. Afinal, ele não virá mais aqui por um "bom tempo" - como ele disse.
- Talvez eu possa sair mais cedo do trabalho, passar lá, tomar um café e voltar à tempo para casa, sem que ninguém saiba de nada.
Esta conversa comigo mesma já estava ficando muito longa. No fundo eu sabia que era errado e que um café viraria um drink e um drink viraria um drink no quarto... Enfim, eu sabia que não iria lá.
O celular anunciou mais uma mensagem.
- Caramba! Eu nem respondi a primeira ainda... Será que ele sabe que eu estou em dúvida e está tentando me convencer?
Nesta, ele apenas digitou o refrão de uma música que sabia que eu gostava.
Ele me conhece bem.
Mas mesmo assim, não iria. Não era isso que me faria ir até ele. Não mesmo!
- E outra: à esta hora, meu noivo já está encomendando um jantar especial para nós. Sushi, pizza ou comida chinesa... Como toda sexta-feira...
Neste momento, enquanto eu olhava fixamente para a mensagem, o celular tocou. Eu levei um susto e acabei por derrubá-lo no chão. Ele caiu aberto, já atendendo a ligação, sem que eu visse quem era.
- Alô! - digo com a voz meio trêmula, como se o coração estivesse na garganta.
- Oi vida! Tudo bem?
Meu noivo.
- Tudo e você?
- Estou bem! Só estou ligando para avisar que não vou voltar cedo para casa hoje. Marquei de ir num bar, fazer um happy hour com os amigos do trabalho.
- E-Está bem...
- Tudo bem mesmo? Então tá bom! Beijos! Amo você!
Eu também o amo. Tinha acabado de pensar nisso, inclusive. Mas de repente, tudo mudou. Não que eu me importe que ele saia com os amigos. Mas enquanto isso, eu iria para casa, passar a noite sozinha...
Pensei sobre isso a tarde toda. Mas não respondi às mensagens, nem recebi mais nenhuma.
Acabou o expediente. Entrei no carro. Respirei fundo. Saí do prédio. Andei pelo centro. O coração saltava dentro do peito. Parei na frente do hotel...
"Estou aqui", enviar.