sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Sexta-feira

Ele estava na cidade. A mensagem no meu celular dizia exatamente o lugar em que estaria hospedado por todo o final de semana. E me convidava para ir vê-lo.
Não poderia fazer isso. Meu noivo me esperava em casa assim que saísse do trabalho. No entanto, a curiosidade e a surpresa me diziam que eu deveria responder à mensagem... dizer um "oi" pelo menos.
Melhor não. Assim iria prolongar a idéia de que eu talvez sentisse saudades dele.
- E não sinto?
Perguntar a si mesmo é a plena confirmação da dúvida.
- Sim, eu sinto!
- Mas por que eu arriscaria algo tão imaculável como o relacionamento sólido que mantenho à tanto tempo?
"Imaculável, sólido..." acho que nunca havia definido tão docemente esta relação morna que eu levo...
- Amo meu noivo. Jamais o magoaria assim. Sei que se eu fosse ao hotel, ele morreria por dentro.
Outra mensagem. Dizia que sentia muitas saudades de mim e que não voltaria mais para a cidade por um bom tempo.
- Talvez dizer um "oi" pessoalmente não seja assim tão ruim. Afinal, ele não virá mais aqui por um "bom tempo" - como ele disse.
- Talvez eu possa sair mais cedo do trabalho, passar lá, tomar um café e voltar à tempo para casa, sem que ninguém saiba de nada.
Esta conversa comigo mesma já estava ficando muito longa. No fundo eu sabia que era errado e que um café viraria um drink e um drink viraria um drink no quarto... Enfim, eu sabia que não iria lá.
O celular anunciou mais uma mensagem.
- Caramba! Eu nem respondi a primeira ainda... Será que ele sabe que eu estou em dúvida e está tentando me convencer?
Nesta, ele apenas digitou o refrão de uma música que sabia que eu gostava.
Ele me conhece bem.
Mas mesmo assim, não iria. Não era isso que me faria ir até ele. Não mesmo!
- E outra: à esta hora, meu noivo já está encomendando um jantar especial para nós. Sushi, pizza ou comida chinesa... Como toda sexta-feira...
Neste momento, enquanto eu olhava fixamente para a mensagem, o celular tocou. Eu levei um susto e acabei por derrubá-lo no chão. Ele caiu aberto, já atendendo a ligação, sem que eu visse quem era.
- Alô! - digo com a voz meio trêmula, como se o coração estivesse na garganta.
- Oi vida! Tudo bem?
Meu noivo.
- Tudo e você?
- Estou bem! Só estou ligando para avisar que não vou voltar cedo para casa hoje. Marquei de ir num bar, fazer um happy hour com os amigos do trabalho.
- E-Está bem...
- Tudo bem mesmo? Então tá bom! Beijos! Amo você!
Eu também o amo. Tinha acabado de pensar nisso, inclusive. Mas de repente, tudo mudou. Não que eu me importe que ele saia com os amigos. Mas enquanto isso, eu iria para casa, passar a noite sozinha...
Pensei sobre isso a tarde toda. Mas não respondi às mensagens, nem recebi mais nenhuma.
Acabou o expediente. Entrei no carro. Respirei fundo. Saí do prédio. Andei pelo centro. O coração saltava dentro do peito. Parei na frente do hotel...
"Estou aqui", enviar.

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