segunda-feira, 19 de abril de 2010

O velho

Um senhor sentou-se à minha mesa no departamento de atendimento ao cliente. Aparentava ter uns 60 anos ou mais e possuía todos os cabelos brancos. Sua agilidade era um tanto debilitada, seu corpo magro e fraco estava em harmonia com a leve tremedeira em suas mãos e a voz rouca. Contudo, parecia não sofrer de grandes enfermidades. Apesar de aborrecido com a situação que estava prestes a me apresentar, entregou-me seus documentos de forma simpática. Perguntou se teria que escrever algo, explicando em seguida que não era bom nisso. Com olhar distante, confessou ter perdido diversos bons empregos na vida por não ter essa prática.Respondi-lhe que não havia nada o que escrever, apenas assinar alguns papéis. Enquanto falava, abri sua carteira de trabalho e deparei-me com a foto de um jovem de não mais do que dezesseis anos. Tamanha era sua postura e o distanciamento no olhar que me custou acreditar que se tratava daquele jovem, o frágil senhor sentado à minha frente.Por alguns segundos não consegui voltar minha atenção na continuação do meu trabalho. Fiquei a imaginar como e o que teria levado aquele homem a tal mudança, que não era apenas física, mas também, comportamental. O jovem da foto era uma pessoa segura, imaculável, disposto a todas as desventuras que lhe pudesse aparecer na vida, enquanto que o senhor, alí a reclamar-me seus direitos, mostrava-se frágil, numa posição encurralada. Para onde haverá se extraviado toda a sua arrogância juvenil? Quantas desilusão teria teria aquele rapaz passado até perder seu ar de majestade? Será este o fim de todos nós, jovem arrogantes e estúpidos?Todos acreditamos que somos eternos e preparados para tudo. Como será quando descobrirmos de verdade que somos frágeis corpos no espaço, dispostos aos efeitos de tudo o que existe?Quantos foram seus problemas, não posso sequer imaginar. Suas boas escolhas e más escolhas, em nada me diziam respeito. Fechei sua carteira, entreguei-lhe seus papéis e ele se despediu gentilmente. Meu trabalho com ele estava feito, mas de certa forma, aquela situação havia dispertado em mim de forma mais real o que todos sempre dizem: "ninguém é eterno"!

Nenhum comentário:

Postar um comentário